junho 30, 2010

poema circense
















[poema circense]

texto | José Paulo Paes, 1951
ilustrações | Carolina Ribeiro, jun 2010

Atirei meu coração às areias do circo como se atira ao mar âncora aflita. Ninguém bateu palmas. O trapezista sorriu, o leão farejou-me desdenhosamente, o palhaço zombou de minha sombra fatídica.

Só a pequena bailarina compreendeu. Em suas mãos de opala, meu coração refletia as nuvens de outono, os jogos de infância, as vozes populares.

Depois de muitas quedas, aprendi. Sei agora vestir, com razoável destreza, os risos da hiena, a frágil polidez dos elefantes, a elegância marinha dos corcéis.

Todavia, quando as luzes se apagam, readquiri antigos poderes e voo. Voo para um mundo sem espelhos falsos, onde o sol devolve a cada coisa a sombra natural e onde não há aplausos, porque tudo é justo, porque tudo é bom.

3 comentários:

  1. Carol, uma das coisas mais lindas que já vi. O mundo fica mais bonito com você e a sua arte, amiga.

    Obrigada por existir.

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  2. Realmente, Carol! Que lindo!!
    Mais uma Dani pra concordar.
    Parabéns! E obrigada por compartilhar esses desenhos inspiradores!!
    Beijos

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